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01218 020 | SÃO PAULO - SP
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
27
out 2017
sexta-feira 21h00 Paineira
Temporada Osesp: Stutzmann e Meneses


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Nathalie Stutzmann regente
Antonio Meneses violoncelo


Programação
Sujeita a
Alterações
Antonín DVORÁK
Concerto Para Violoncelo em Si Menor, Op.104
Sinfonia nº 7 em Ré Menor, Op.70
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SEXTA-FEIRA 27/OUT/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

DVORÁK

Concerto Para Violoncelo em Si Menor, Op.104

 

A célula si, dó#, ré, si é apresentada logo no primeiro compasso do concerto pelo par de clarinetas, que imediatamente espelha o fragmento, invertendo (com mais atenção) o desenho das notas: si, lá, fá#, si. Ainda antes da incisiva entrada em Si Maior do violoncelo solista, ouve-se o segundo tema, uma expressiva melodia pentatônica na trompa, que, assim como ocorre em outras peças de Dvorák desse período, reflete o universo sonoro do chamado “novo mundo”, os Estados Unidos. Nascido em Praga em 1841, o compositor havia se mudado para a América em 1892, por conta de um convite para dirigir o Conservatório Nacional de Nova York, depois de uma excelente acolhida de sua música na Inglaterra.

 

Ao longo dos cerca de quinze minutos do primeiro movimento, a narrativa se desenvolve com rigor e
 clareza formal, sugerindo e alinhavando uma série de desdobramentos, sempre criativos, da célula inicial. O 
lírico “Adagio” que se segue chama a atenção tanto pelo colorido orquestral quanto pelo amplo uso de diferentes procedimentos: texturas nas madeiras, efeitos de pizzicato nas cordas, mudanças de andamento, deslocamentos da função do solista para uma situação de acompanhamento, corais nas trompas, recolhimentos de câmara, explosões em tutti. Depois de uma sequência em cordas duplas, o violoncelo finaliza o movimento com uma melodia na região aguda, notas em trinados e harmônicos. Para o “Finale”, Dvorák retoma a exuberância, a estrutura motívica e a tonalidade do início. A peça se encaminha gradualmente para o desfecho, agora nostálgica, com reminiscências dos movimentos anteriores; o solista, em pianissimo, aos poucos se cala. A orquestra ressurge em fortissimo para seus últimos ataques.

 

A estreia aconteceu em Londres, em março de 1896, com Leo Stern ao violoncelo e o próprio Dvorák na regência.

 

 

DVORÁK

Sinfonia nº 7 em Ré Menor, Op.70

 

A Sétima Sinfonia, de uma fase anterior ao concerto, 
foi escrita entre o final de 1884 e os primeiros meses de 1885. Aqui a tragicidade é da essência e permeia todo o arco formal, ora iluminando a linha de frente, ora vigiando como sombra ao fundo. A escolha da tonalidade, Ré Menor, reforça tal caráter e propõe imediatamente um diálogo com algumas peças que já à época haviam se consolidado como fundamentais na literatura musical, tais como o Réquiem de Mozart (1791), a Nona de Beethoven (1824) e o Primeiro Concerto Para Piano de Brahms (1858). Este Ré Menor aqui parece muito mais 
o sintoma de uma maturidade consciente de si do que 
de uma prova de enfrentamento. E, nesse sentido, insere com naturalidade a Sétima nessa tradição, como um elo que conecta a música dos mestres do passado às futuras criações no mesmo tom, como, por exemplo, o Réquiem de Fauré (1900) e até mesmo o de Britten (1962).

 

Essas características são facilmente notadas na
 escuta dos segundos iniciais do “Allegro Majestoso”, com a tônica nos contrabaixos e o rulo dos tímpanos que, juntos, emolduram um primeiro esboço de progressão harmônica. O “Poco Adagio”, segundo movimento em Fá Maior, intervém — ao menos no começo — aliviando as tensões, um respiro necessário para reunir energia para outros embates que mais à frente virão. À sua maneira, algo semelhante se dá no “Scherzo”, quando as figuras leves de dança vão pouco a pouco se tornando mais complexas, rumo a uma seção de contraste. No “Allegro” que encerra a peça, o caráter do início e a tonalidade principal são retomados; depois de idas e vindas, desvios e recapitulações, a travessia termina heroicamente, agora em Ré Maior.

 

Assim como no Concerto Para Violoncelo, a estreia da Sétima Sinfonia também se deu em Londres, com o próprio compositor na direção da orquestra, em 22 de abril de 1885.

 

SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,

coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)

e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.

 


ENTREVISTA COM ANTONIO MENESES

 

Em 2017, o grande violoncelista brasileiro Antonio Meneses celebra seus sessenta anos. O pernambucano comemora a data com a Osesp em três concertos, sob regência de Nathalie Stutzmann. No programa, uma das obras mais queridas do público: o Concerto Para Violoncelo, de Dvorák. Duas horas antes dos concertos com a Orquestra, Meneses interpreta, a cada noite, duas Suítes Para Violoncelo Solo de Johann Sebastian Bach, apresentando assim, ao final dos três dias, a integral das Suítes do compositor alemão. Leia abaixo trechos da entrevista que Meneses concedeu em janeiro à Revista Osesp.


TODA EFEMÉRIDE É TAMBÉM UMA OPORTUNIDADE PARA BALANÇOS E PROSPECÇÕES. COMO VÊ A CENA MUSICAL BRASILEIRA, ÀS VÉSPERAS DE SEU ANIVERSÁRIO DE SESSENTA ANOS?
Bem, minha opinião é de alguém que sempre morou na Europa. O que pude observar ao longo dos últimos vinte anos é que, de maneira geral, houve uma melhora. Os casos mais notáveis são o das orquestras que temos hoje e que, quando eu era jovem, não existiam ou não tinham essa qualidade. Penso sobretudo na Osesp e na Filarmônica de Minas Gerais.


Por outro lado, o Brasil é sempre cheio de altos e baixos. Estamos num vale, e há ainda muitos “baixos”, o que é uma pena. Para ficar num exemplo recente: o fato de que a Oficina de Música de Curitiba, depois de 34 anos, tenha sido cancelada, é muito triste.


Os projetos têm que ter continuidade, não há outra maneira. Mas tudo ainda depende muito da política.


A OSESP TEM O PRIVILÉGIO DE CONTAR COM SUA PRESENÇA COM ALGUMA FREQUÊNCIA; COMO VÊ A PARCERIA ENTRE SOLISTA, ORQUESTRA E REGENTE?
Sempre tive uma ótima relação com a Osesp, desde antes da nova Osesp. Toquei muitas vezes com Eleazar e guardo belas recordações. A parceria com a orquestra e os maestros com quem pude colaborar — tanto os diferentes regentes titulares quanto os convidados — foi sempre muito boa. E as turnês de que participei com a orquestra, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, foram para mim memoráveis.


NO CONCERTO PARA VIOLONCELO, DE DVORÁK, A OSESP SERÁ REGIDA POR NATHALIE STUTZMANN, OUTRA ARTISTA COM QUEM A ORQUESTRA MANTÉM RELAÇÃO DE PROXIMIDADE. VOCÊ TAMBÉM INTERPRETARÁ A INTEGRAL DAS SUÍTES PARA VIOLONCELO SOLO, DE BACH. QUAL É SUA EXPECTATIVA COM RELAÇÃO A ESSAS APRESENTAÇÕES?
Vai ser a primeira vez que me apresento com Nathalie. Aliás, nunca vi um concerto dela ao vivo: conheço e admiro seu trabalho de gravações e de vê-la na televisão. É uma musicista maravilhosa, tanto como cantora como regente: vê-se que a música sai realmente da alma dela. E é isso que tento fazer também, que a música saia do coração. Por isso, estou convencido de que será um encontro muito feliz.


Para tocar as Suítes de Bach na Sala São Paulo, vou me apresentar com um violoncelo barroco.


E no caso da Sexta Suíte, em Ré Maior, há uma particularidade: Bach escreveu essa peça para um instrumento de cinco cordas, que hoje não se usa mais. Geralmente, toca-se a Suíte nº 6 nas quatro cordas, mas é uma tortura do começo ao fim. É maravilhoso poder tocar essa obra da maneira que Bach a concebeu: isso abre possibilidades sonoras incríveis.


Não há muitas obras escritas para o violoncelo de cinco cordas, por isso é complicado se ter um instrumento desses. Pedi a um luthier que transformasse um instrumento barroco que eu já tinha, de maneira que se possa tocar tanto com quatro como com cinco cordas.


O desafio em São Paulo será tocar as suítes no instrumento barroco e, em pouquíssimo tempo, passar para o violoncelo moderno para tocar o Concerto de Dvorák. Tenho estudado todos os dias com ambos os instrumentos: assim a passagem de um a outro se torna natural.

 

Entrevista a RICARDO TEPERMAN