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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
13
abr 2018
sexta-feira 20h30 Sapucaia
Temporada Osesp: Shelley e Montero


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Alexander Shelley regente
Gabriela Montero piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Gioacchino ROSSINI
O Barbeiro de Sevilha: Abertura
Wolfgang Amadeus MOZART
Concerto nº 14 para Piano em Mi bemol maior, KV 449
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 4 em Si bemol maior, Op.60
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  SEXTA-FEIRA 13/ABR/2018 20h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

GIOACCHINO ROSSINI [1792-1868] /150 ANOS DE MORTE

O Barbeiro de Sevilha: Abertura [<1816]
8 MIN
 

WOLFGANG AMADEUS MOZART [1756-91]
Concerto nº 14 para Piano em Mi Bemol Maior, KV 449 [1784]
21 MIN

 

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]
Sinfonia nº 4 em Si Bemol Maior, Op.60 [1806]

ADAGIO. ALLEGRO VIVACE
ADAGIO
ALLEGRO VIVACE
ALLEGRO MA NON TROPPO

34 MIN

 

Na ópera bufa O Barbeiro de Sevilha (1816), de Rossini, o astuto barbeiro Figaro ajuda o Conde Almaviva a conquistar sua amada em uma série de episódios burlescos. Trinta anos antes, Mozart retratara a mesma personagem na ópera As Bodas de Figaro: ambas as obras são inspiradas na trilogia teatral sobre o barbeiro do francês Beaumarchais (1732-1799).

 

Aos 24 anos, com reputação já estabelecida e declarada admiração por Mozart, Rossini compôs sua ópera em menos de três semanas. Muitos materiais foram reaproveitados de outras obras, inclusive a própria Abertura, usada em pelo menos duas óperas anteriores (1). Assim, como era comum à época, suas memoráveis melodias não são os temas (igualmente memoráveis) utilizados ao longo da ópera: trata-se de uma obra musicalmente independente que, no entanto, cumpre sua função de forma irrepreensível. Na introdução “Andante Moderato” os violinos desenham uma melodia cantabile que podemos facilmente imaginar em uma voz soprano com a técnica do bel canto (2).  O Alegro vivace que se segue alterna dois temas sincopados, que também poderiam ser cantados, com transições mozartianas de caráter orquestral.

 

Entre 1782 e 1786 (ano em que finalizou As Bodas de Figaro), Mozart compôs 14 de seus 23 concertos para piano (3).  Em 1782, recém-chegado a Viena, ele encontrou no concerto um meio de unir seus já aclamados talentos como compositor e virtuoso do pianoforte para atrair a atenção do público e os favores da alta sociedade. Entre esse ano e o seguinte ele concluiu os concertos KV 413, 414 e 415, e iniciou a composição do KV 449, finalizado em 1784. Os quatro concertos possuem orquestração enxuta e podem ser tocados sem os sopros, na formação de quarteto de cordas e piano.  Isso ampliava o alcance comercial dessas peças aos assíduos compradores de partituras da burguesia e alta sociedade, que costumavam tocar música de câmara entre amigos e familiares. O concerto KV 449 abre o catálogo que Mozart organizou de suas obras, o que indica sua importância: é possível considerar que aqui “começa realmente a história de seus concertos para piano” (4),  iniciando uma sequência de obras-primas no gênero.


O Allegro vivace tem tempo ternário, raro em primeiros movimentos e que provoca uma instabilidade rítmica. Essa volubilidade é enfatizada pelos padrões melódicos agitados e oscilações modulatórias do tutti inicial. A calma e segura entrada do piano conduz a orquestra a outra direção. Ao final desse movimento há uma costumeira cadência, momento solo do pianista que, no caso de Mozart, era via de regra improvisado. Mozart escreveu uma cadência para esse concerto, dedicada à sua aluna Babette Ployer e normalmente tocada pelos intérpretes contemporâneos – mas, no caso da pianista Gabriela Montero, que também improvisa, podemos esperar algumas surpresas. O terceiro movimento relembra Rossini, amalgamando técnicas contrapontísticas a elementos estilísticos da ópera bufa.

 

Ladeada pelas opulentas Sinfonias nº 3 (Eroica) e nº 5, a Sinfonia nº 4 de Beethoven (1806) foi descrita por Schumann como “uma esbelta donzela grega entre dois gigantes nórdicos” (5). Se faz jus à orquestração mais enxuta (com, por exemplo, somente uma flauta ao invés das duas usuais), ao caráter menos dramático e proporções clássicas da Sinfonia nº 4 (prováveis responsáveis pela menor aclamação pública que recebeu), essa descrição minimiza as qualidades intrínsecas da obra. Os rascunhos infelizmente se perderam, mas sabemos que o compositor já começara a trabalhar na Sinfonia nº 5 quando finalizou a nº 4, e que seus recursos composicionais traçam conexões com a sonata para piano Waldstein, de dois anos antes.


A obra inicia-se com uma escura e misteriosa introdução em Adagio que, a partir do modo menor, visita regiões harmônicas remotas e atrasa a revelação da real tonalidade da peça, no modo maior. Segue-se um Allegro Vivace sincopado, de caráter alegre e vibrante, com um crescendo grandioso iniciado por um longo rulo de tímpano. O lirismo do segundo movimento, Adagio, antecipa um romantismo mais tardio, e o Allegro Vivace que o sucede intercala um Scherzo dançante, com frases binárias sobrepostas a um tempo ternário, a um Trio que destaca os sopros. O vívido quarto movimento, Allegro ma Non Troppo, apresenta várias surpresas como a retomada do tema inicial, na coda, mais lento e com frases incompletas.


A Sinfonia nº 4 é dedicada ao Conde de Oppersdorff, que encomendou duas sinfonias a Beethoven (6) com pagamento adiantado, logo após uma desavença pessoal ter afastado o compositor do Príncipe Lichnowsky, seu patrono de longa data – e que também fora patrono de Mozart. Com sua habitual altivez para com seus mecenas, Beethoven optou por dedicar as Sinfonias nº 5 e 6 (Pastoral), planejadas para esse fim, a nobres mais importantes (7),  destinando a Oppersdorff somente a Sinfonia nº 4. O conde, aparentemente, não reclamou sua segunda obra – o que talvez seja um indicativo dos méritos da Sinfonia nº 4.

 

1. A abertura estreia foi substituída depois pela que se tornou célebre, sendo ambas originais de outras óperas do compositor (a atual Abertura de O Barbeiro de Sevilha é a mesma de sua ópera dramática Elisabetta, composta um ano antes).
2. O termo bel canto refere-se a uma tradição vocal que teve seu apogeu no século XIX, na qual a agilidade, flexibilidade, ampla extensão, homogeneidade tímbrica e virtuosismo são valorizados, tendo a melodia vocal primazia sobre o acompanhamento orquestral.
3. Os concertos para piano de Mozart chegam até a numeração 27. Os quatro primeiros, contudo, são arranjos para piano e orquestra de movimentos de sonata de outros compositores.
4. Girdlestone, Cuthberg. “Mozart and His Piano Concertos”. Mineola/NY: Dover Publications, 2011, versão digital.
5. LOCKWOOD, Lewis. Beethoven's Symphonies: An Artistic Vision. New York / Londres: W. W. Norton & Company, 2015, p. 79.
6. Na ocasião de uma visita de Beethoven a Oppersdorff (vizinho do Príncipe Lichnowsky), na qual sua Sinfonia nº 2 foi tocada, o nobre encomendou ao compositor uma sinfonia, pagando a ele uma quantia significativa. Antes que a obra estivesse terminada, ele encomendou uma segunda sinfonia.
7. Respectivamente, o Príncipe Lobkowitz e o Conde Razumowsky.

 


Júlia Tygel é pianista e professora na Faculdade de Música

Souza Lima e na EaD da UFSCar. É doutora em música pela USP

com estágio na City University of New York como bolsista CAPES/Fulbright.

 


Leia o ensaio "A Era de Beethoven", de Arthur Nestrovski, aqui.


Leia um excerto do ensaio "Prefácio a Vida de Rossini", de Lorenzo Mammì, aqui.


Leia o ensaio "Signor Tambourossini", de Larry Wolff, aqui.


Leia a entrevista com a pianista Gabriela Montero, realizada por Arthur Nestrovski, aqui.