PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
19
mai 2017
sexta-feira 21h00 Araucária
Temporada Osesp: Peleggi e Melnikov


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Valentina Peleggi regente
Alexander Melnikov piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Claude DEBUSSY
Berceuse Héroïque
Robert SCHUMANN
Concerto Para Piano em Lá Menor, Op.54
Pyotr I. TCHAIKOVSKY
Francesca da Rimini, Op.32 - Fantasia a partir de Dante
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SEXTA-FEIRA 19/MAI/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

DEBUSSY
Berceuse Héroïque /O HERÓI/ COMPOSITOR TRANSVERSAL

 

Berceuse Héroïque é a segunda peça de Claude Debussy [Compositor Transversal] a ser apresentada na temporada 2017 da Osesp, e também a primeira a envolver diretamente a temática do “Herói” que será explorada ao longo do ano. Concebida originalmente para piano e orquestrada por Debussy ainda em 1914, a música foi dedicada a “sua majestade o Rei Alberto I da Bélgica e seus soldados” pouco depois do ataque das forças alemãs a Liège, no início da Primeira Guerra Mundial.


O caráter delicado de berceuse (canção de ninar) é proposto logo nos primeiros compassos, com o pulsar leve da harpa na região grave, dobrada por violoncelos e contrabaixos com surdinas. Sua porção “heroica” fica por conta da utilização do tema do hino da Bélgica na seção central da peça. Como é comum na escrita do compositor francês, o contraste na transição entre as partes é reforçado por uma seleção particular de notas. Se a melancolia da primeira parte é aqui associada à sonoridade das “teclas pretas” do conjunto cromático (os bemóis), a citação do hino é deslocada para as sete “teclas brancas”, as notas da escala de Dó Maior. Mas o timbre escuro de fagotes e trompas que envolve esse trecho evidencia a impossibilidade do triunfo.


No segmento final, as notas voltam a ser rebaixadas e a intensidade decresce. Ao longe um toque triste de trompete sonha com a resistência. A música se esvai. A Alemanha marcha em direção à França.

 

SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,
coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)
e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.

 

 

SCHUMANN

Concerto Para Piano em Lá Menor, Op.54

 

Acostumado a compor peças para piano de pequeno formato, Schumann entregou-se, em 1841, ao desafio de conceber uma obra de fôlego para esse seu instrumento predileto e aparato orquestral, o que resultou numa Fantasia em Lá Menor. Quatro anos depois, em 1845, completou os movimentos faltantes, dedicando o (agora) Concerto ao pianista e compositor Ferdinand Hiller.


O “Allegro Affettuoso” inicial é aberto por uma curta e provocante introdução, da qual o piano já participa. Tem-se, então, nas madeiras e trompas, o tema fundamental do movimento em Lá Menor. É esse motivo que irriga o movimento inteiro com ímpeto, ora apresentado em tom maior, ora com seu ritmo engenhosamente modificado. Dessa maneira, Schumann consegue emprestar ao “Allegro”, a um só tempo, variedade e unidade, por meio de uma escrita que, pelo tom de liberdade, lembra uma autêntica improvisação.


O “Intermezzo: Andantino Grazioso” tem uma forma ternária simples (A-B-A), em cuja primeira parte solista e orquestra trocam frases curtas, marcadas pela clareza e pela transparência do acompanhamento. O episódio central (B) fornece a ideia contrastante, em Dó Maior: um generoso fio melódico a cargo dos violoncelos e, depois, dos violinos. Sobre ele, o solista risca arabescos. Antes do final do movimento, quando já se voltou à primeira parte (A), a orquestra surpreende fazendo reaparecer o tema principal do primeiro andamento, ligando o “Intermezzo” diretamente ao movimento final.


O “Finale” é um allegro efetivamente vivace. Baseia-se em dois temas principais de caráter diverso. O primeiro motivo, de perfil ascendente, é mostrado pelo piano nos primeiros compassos. O segundo tema aparece depois com ritmo inesperadamente assimétrico, que leva a música a soar titubeante. O oboé exibe, então, um motivo que o piano logo assimila. Sobre esse material, o compositor articula o brilhante final, fazendo uso de contrapontos e de jogos de iluminação conseguidos por meio de modulações inesperadas. A coda de encerramento mostra, uma vez mais, o motivo principal da obra, só que com tratamento rítmico diferente de tudo o que havia sido apresentado.

 

J. JOTA DE MORAES foi professor, jornalista e autor dos livros

O que é música e Música na Modernidade,

publicados pela Editora Brasiliense.

 

 

TCHAIKOVSKY
Francesca da Rimini, Op.32 - Fantasia a Partir de Dante/ TCHAIKOVSKY EM FOCO

 

Segunda peça de Tchaikovsky a ser interpretada na Temporada 2017 da Osesp, Francesca da Rimini foi estruturada como um poema sinfônico, inspirado no “Inferno” de A Divina Comédia, de Dante (1265-1321). Logo no início do “Canto 5”, detalhes da história de Francesca são introduzidos: “À entrada do segundo círculo do Inferno [...] Dante distingue na ventania um casal amoroso [...], são eles Paolo e Francesca, os cunhados adúlteros, surpreendidos e mortos pelo marido traído”. (1) 


Composta durante uma visita de três semanas que Tchaikovsky fez à Bayreuth de Richard Wagner, em 1876, a peça é um raro caso em que a influência do estilo do compositor alemão pode ser identificada na obra do compositor russo. Exemplo disso é a escrita altamente virtuosística das cordas, que tensionadas em seu agudo extremo desenham seguidas frases descendentes. A turbulência da atmosfera só será modificada cerca de oito minutos depois, quando uma melodia terna e expressiva, de dicção claramente tchaikovskiana, é apresentada nas cordas, logo após um lamento da clarineta. “Não há tão grande dor qual da lembrança de um tempo feliz [...]”, responde Francesca a uma indagação de Dante. (2) A cada repetição o colorido orquestral se modifica: madeiras sobre pizzicati das cordas, violoncelos em uníssono, diálogos entre harpa e corne-inglês.


Com a retomada do Allegro, a fúria orquestral volta avassaladora, densa e irreconciliável em sua sina, rumo à queda final. “Enquanto uma dizia seu amargor, chorava a outra alma e, como quem se esvai em morte, eu me esvaí de pena e dor, e caí como corpo morto cai.” (3)

 

1. ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: Inferno. Tradutor de Italo Eugenio Mauro. São Paulo: Ed. 34, 1998, p 49.


2. Ibidem, p. 53.


3. Ibidem, p. 54.

 

SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,
coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)
e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.


Leia sobre o compositor Claude-Achille Debussy no ensaio "A Revolução Suave de Claude Debussy", de Paulo da Costa e Silva aqui.


Leia sobre Pyotr I. Tchaikovsky no ensaio "Tchaikovsky, Sinfonista Patético", de Richard Taruskin, aqui.